lunes, noviembre 05, 2018

Crónica de Lisboa *

Uma casa geminada com portas enfrentadas e abertas, de tetos altos. Rodeados de pinhos mansos que dão ananases nacarados. Árvores que entopem um bosque que o inundou tudo. Só deixaram os caminhos de pó seco. Caminhos pelos que marcar o passo.

Nesta terra lá foi o tempo de engarrafar o vinho. Ao não contar nos meses não puderam contar nos anos. Também não pôde ninguém ler as anotações em xiz na adega escura. Estavam tão tranquilos e melancólicos, ...nata na boca. Mas como se fosse um milagre o vinho nunca chegou a avinagrar-se e se fez doce. Então, para celebrá-lo, uma mulher - teve de ser uma mulher- plantou rosas ao redor da videira.

Mar sem espuma, de sal, horizonte esvaecido. Mar sobre areia fina, sem algas nem vida aparente. Mar de borbulhas, mar muito frio de vento.

Esta terra late em um tempo contrário, a um passo mudado, em algum momento todo se deveu de dar um golpe ao tempo. Aqui não são os soldados os que dão os tiros. Aqui são os soldados os que choram com a música, os que procuram os olhares das garotas que passam. Aqui são elas as que repartem flores.

Um local para subir correndo ao elétrico, para imaginar. Espaços nos que achar ver ao Fernando Pessoa em um cantinho e reconhecer mil decorados de fados, de filmes por voltar a sentir. Uma oportunidade para percorrer as mesmas encostas de Granada e reconhecer o bairro judeu, imaginar mil barcos no porto saindo para as índias. Isto que foi o centro do mundo.

Queijo que se derrete sobre o pão. Oliva dura. Arroz longo. Peixe. Sardinha gordurosa. Caldo verde.

Aqui todas as casas têm um espelho oval no salão, dizem que é para se encontrar com um, para cruzar olhares, mas pode que também sirva para fixar sorrisos. Esse silêncio que respeita e não inquieta, é Lisboa

Com a ajuda de José Ramom

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